Materias Especiais - Grupo Y-no

Banda de Tóquio que faz samba em português macarrônico fala ao G1. 'É fácil entrar no ritmo do pagode – é só pegar um chocalho e chacoalhar'.

Amauri Stamboroski Jr.
Do G1, em São Paulo

Um cavaquinho elétrico abre a melodia, enquanto os outros instrumentos – rebolo, bateria, banjo, baixo – entram devagar, um pouco fora de tempo, num samba meio torto. Com um sotaque pesado, mas que tenta imitar a linha melódica do pagode romântico brasileiro dos anos 90, o vocalista canta em português macarrônico: “Eu estava sofrendo para te procurar/ Namoração da internet é bom, né?/ Eu sou galinha/ Eu quis te olhar, a mulher nua/ Mas agora você já está batendo no meu coração/ Aí gatinha, me dá uma chance para este lixo/ Ma-ra-vi-lho-so”.
“Querido meu amor”, a faixa descrita acima, é uma das músicas mais conhecidas da banda japonesa de pagode Grupo Y-no. O vídeo da faixa no YouTube, gravado durante uma apresentação ao vivo em um bar em Tóquio, já passou das 100 mil visualizações com apenas duas semanas no ar. O grupo foi formado em Tóquio em 2007 por estudantes da Sophia University que se conheceram em um clube especializado em música brasileira. “Nos apaixonamos pelo samba e pelo pagode aos poucos, especialmente pela melodia e pelo ritmo”, explicam em entrevista por e-mail ao G1. Segundo os integrantes do grupo (Bekki no pandeiro, Reji no baixo, Ta no banjo, Kenta Ohno no rebolo, Hisashi no cavaquinho e Yamagataro na bateria), a escolha pelo pagode veio naturalmente. “É fácil entrar no ritmo do pagode – é só pegar um chocalho e chacoalhar e você já está fazendo um pagode. Essa facilidade, junto com a beleza da música, é o que queremos que nossos fãs aproveitem. É só relaxar, entrar no ritmo e sentir a nossa melodia, a nossa paixão pela música”, explicam.

Fundo de Quintal e Revelação

Eles dizem gostar ainda de axé e do hip-hop brasileiro, e citam como influências artistas como Fundo de Quintal, Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Art Popular, Alcione, Pique Novo e Revelação, entre outros. As letras misturam japonês e português e, para cantar em nossa língua, eles contam com o conhecimento adquirido na universidade. “Alguns dos membros estudaram português e fazem a tradução. Sabemos o que estamos cantando, mas não temos certeza se conseguimos passar todas as nuances. Escrevemos as nossas letras baseadas no nosso cotidiano, e depois colocamos a melodia. A nossa libido é a principal fonte de letras, mas colocar tudo isso em português não é fácil”, explicam. Aprendendo a tocar música brasileira com membros mais velhos do clube e vendo vídeos na internet, eles também sofreram para conseguir os instrumentos. “Nós tocamos pela primeira vez com os instrumentos da universidade, mas existe uma loja de instrumentos brasileiros aqui em Tóquio, e o dono sabe escolher bem o material. Também compramos outros instrumentos quando viajamos para o Brasil em 2008”, dizem. A viagem foi registrada em um diário em japonês no site oficial do Grupo Y-no, e um vídeo mostra os membros da banda em uma jam session com os funcionários de uma loja no Rio de Janeiro, tocando “A batucada dos nossos tantãs”. Eles dizem não ter muitos fãs ainda – “no momento são mais parentes e amigos” – mas contam que o público está crescendo. “O pagode é muito raro no Japão. No começo as pessoas ficam curiosas, tentando entender, mas como o show é divertido, elas vão entrando no ritmo”.

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